Mães não priorizam carinho
e lazer na primeira infância
14 de setembro de 2012 | 8h 46OCIMARA BALMANT, COM COLABORAÇÃO DE MARIANA LENHARO - Agência Estado
Para as mães de crianças
menores de 3 anos, cuidar da saúde do filho é muito mais importante do que dar
carinho, brincar ou conversar com ele. Esse é o resultado de uma pesquisa
realizada pelo Ibope que ouviu mais de 2 mil pessoas em 18 capitais
brasileiras.Quando perguntadas sobre o que
é importante para o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos, 51% delas
responderam que a principal contribuição é levar ao pediatra regularmente e dar
as vacinas. O porcentual de quem acredita na importância de brincar, passear e
conversar cai para 19% e fica menor ainda se forem considerados os que defendem
a necessidade da socialização com outras crianças: 8%. "Isso mostra como a
questão da saúde está bem resolvida - e é muito bom que esteja -, mas ainda
precisamos avançar muito em relação aos fatores emocionais e
comportamentais", diz Saul Cypel, neuropediatra e consultor da Fundação
Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV). "Os pais ainda desconhecem a
importância de estabelecer os vínculos afetivos e, consequentemente, os danos
que podem haver quando se ignora o potencial de aprendizagem da primeira
infância."
A fundação apresentou a
pesquisa em um simpósio internacional sobre a primeira infância que promoveu em
São Paulo. Os números mostram o desconhecimento dos pais: grande parte dos
entrevistados acha que sentar, falar e andar são sinais mais claros do
desenvolvimento infantil do que a criança ser capaz de interagir ou estranhar
pessoas distantes; mais de 50% dos entrevistados acreditam que o bebê só tem
capacidade de aprender a partir dos 6 meses. "Precisamos de uma
campanha que diga: ?nasceu, começou a aprender?. Sem isso, corremos o risco de
perpetuar um cuidado instintivo que se preocupa com a sobrevivência, mas se
esquece da dimensão ética, dos valores", diz Yves de La Taille, da
Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).Trabalho integrado. O caminho
para essa conscientização passa pela criação de políticas públicas que unam as
Secretarias de Saúde, Educação e Assistência Social, diz Eduardo Marino,
gerente de avaliação da fundação.Desde 2009, a fundação tem
trabalhado com seis municípios na implementação de ações simples, porém
eficazes. O trabalho abrange a criação de espaços lúdicos nos quais as crianças
possam brincar e interagir com seus pais e cuidadores, encontros de reflexão
interativa com a família e um pré-natal que inclua não só questões biológicas,
mas também outros aspectos relevantes do desenvolvimento infantil e - muito
importante a partir dos resultados desta pesquisa -, a ampliação do tempo da
consulta pediátrica. "Já que 79% das mães
recorrem ao pediatra nos momentos de dúvida, é importante que esses
profissionais assumam um papel que vá além do diagnóstico físico. Com uma
consulta estendida, ele pode orientar sobre a importância dos momentos de
lazer, do afeto", resume Cypel. Por enquanto, os pais têm sido norteados
por um censo comum que não difere escolaridade nem classe social: 55% das mães
e gestantes acreditam que deixar as crianças assistirem a desenhos ou a
programas infantis ajuda no desenvolvimento. "A gente propõe, nessa
etapa, atividades em que a criança se movimente, interaja, brinque, faça
atividades artísticas, ao ar livre. Isso tem um papel muito mais importante.
Ainda que a TV seja uma possibilidade cotidiana, o uso tem de ser muito
cauteloso no sentido do tempo gasto e do que é proposto", diz a diretora
da Escola Santi, Adriana Cury.
O paiA figura paterna deixa a desejar na criação dos filhos pequenos. Na parte qualitativa da pesquisa, realizada com mães e gestantes, o papel do pai é muito valorizado, tanto na gestação (94%) quanto na criação dos filhos (92%). Porém, na prática é muito diferente. Apenas 41% dessas mulheres afirmaram que os pais participam ou participaram ativamente da gestação e 51% das grávidas vão sozinhas às consultas. Somente 47% dos pais atuam efetivamente na criação dos filhos, nos cuidados, nas consultas ao pediatra e nas vacinas. Além disso, o tradicional papel de impor limites não é cumprido. Menos da metade (43%) assume essa responsabilidade.
"Se não é pelo instinto
que move as mulheres, ao menos pela importância da questão ética os pais
precisam participar", pondera Yves de La Taille, da Faculdade de
Psicologia da USP. Mesmo sem a ajuda do marido e tendo de trabalhar (55% das
entrevistas estão empregadas), a creche não é vista com bons olhos: 57% acham
que a casa é o melhor lugar para a criança se desenvolver. As informações são
do jornal O Estado de S.Paulo.
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