espírito a cada passo quando este é trazido da maneira correta.
Ora, a criança aprende também a falar primeiramente através de todo o seu
organismo. Considerando o assunto desta forma, temos em primeiro lugar o movimento
exterior, o movimento das pernas, que provoca o contorno forte; o articular dos braços e
das mãos, que produz a flexão, a plasticidade das palavras. Vemos como é transformado
interiormente, na criança, o movimento exterior em movimento da fala.
E se no aprendizado do andar a ajuda que prestamos como guias auxiliares deve ser
impregnada de amor, em nossa ajuda no aprendizado da fala é necessário sermos
interiormente verdadeiros. A maior falsidade da vida se engendra enquanto a criança
aprende a falar, pois aí a veracidade da fala é captada pelo organismo físico.
Uma criança diante da qual, como educadores e mestres, nos expressamos sempre
sinceramente como seres humanos, ao imitar o meio ambiente assimilará a linguagem de
tal forma que nela se intensificará a atividade realizada no organismo enquanto inspiramos
e expiramos.
Naturalmente, estas coisas não devem ser compreendidas grosso modo, mas em suas
sutilezas — pois em sutilezas se constituem e se manifestam por toda a vida. Nós
inspiramos oxigênio e expiramos gás carbônico. Em nosso organismo, pelo processo da
respiração, o oxigênio tem de ser transformado em gás carbônico. O mundo nos fornece o
oxigênio, tomando-nos o gás carbônico. O fato de transformarmos de maneira correta, em
sutis e íntimos processos vitais, o oxigênio em gás carbônico, depende de termos sido tratados
sincera ou falsamente por nosso meio ambiente, durante o aprendizado da fala. O
elemento espiritual transforma-se, aí, totalmente em processo físico.
E uma das falsidades consiste no fato de acreditarmos fazer bem à criança reduzindonos,
pela fala, ao nível infantil. Em seu inconsciente, porém, a criança não quer ser
interpelada em linguagem infantil —quer ouvir, isto sim, algo que corresponda à autêntica
linguagem do adulto. Falemos, portanto, à criança como estamos habituados, e evitemos
uma linguagem infantil especialmene dirigida.
Por causa de suas limitações, a criança inicialmente apenas imita balbuciando aquilo
que se lhe diz; mas não devemos, nós próprios, imitá-la — pois este é o máximo deslize. E
quando acreditamos dever empregar o balbucio da criança, sua linguagem imperfeita,
prejudicamo-lhe os órgãos da digestão. E que todo elemento espiritual se toma físico,
penetra formativamente na organização física. E tudo o que fazemos espiritualmente à
criança é — porque a criança em si é absolutamente nada — também um treinamento
físico. Muitos órgãos digestivos defeituosos na vida posterior devem-no a um errôneo
aprendizado do falar.
Exatamente como o falar surge do andar, do apalpar, do movimento humano, surge
depois o pensar a partir da fala. E é necessário que, durante a orientação auxiliar para o
andar, embebamos tudo em amor; que nos dediquemos — porque a criança imita interiormente
o que se realiza ao seu redor —, durante o aprendizado da fala, à mais sólida
veracidade; e que, assim, façamos predominar a clareza em nosso pensar ao redor da
criança, para que esta, sendo toda ela um órgão sensorial, reproduza interiormente, no organismo
físico, também o elemento espiritual, com o qual possa extrair da fala um pensar
correto.
O maior prejuízo que podemos causar à criança ocorre quando, à sua volta, damos
qualquer ordem que depois revogamos dizendo algo diverso, confundindo então as coisas.
Provocar confusão pelo pensar em presença da criança é a verdadeira raiz daquilo que, na
atual civilização, chamamos de nervosismo.
Por que tantas pessoas de nossa época são nervosas? Simplesmente pelo fato de os
adultos não haverem pensado de forma clara e precisa ao seu redor, quando elas, após
haverem aprendido a falar, aprenderam também a pensar.
Cada geração, ao evidenciar seus mais graves defeitos, é fisicamente uma cópia fiel
da geração precedente. E quando se observam certas falhas dos próprios filhos numa
época posterior da vida, essa observação deve constituir um pouquinho de razão para um
autoconhecimento — pois é por um processo muito íntimo que tudo o que ocorre ao redor
da criança se expressa na organização física. Amor no aprendizado do andar, veracidade no
aprendizado da fala, clareza e determinação durante o aprendizado do pensar
transformam-se, nessa fase da infância, em organização física. Os vasos e órgãos